Porém enquanto Zorro crescia a cada dia e ganhava peso, Mel continuava mirradinha e não conseguia acompanhar o irmão. Zorro corria, Mel corria atrás, mas logo cansava; Zorro escalava, Mel escalava com dificuldade; Zorro comia, Mel comia, mas dormia em cima do prato.
Éramos marinheiros de primeira viagem no mundo felino, e não imaginávamos que tudo isso escondia o que estava por vir.
Porém nesse processo, eu estava particularmente preocupada: nunca tivera alergia na vida! De fato, nem quando Nelsinho passou um tempo conosco, nem durante nosso processo de adoção dos meninos, eu manifestaram qualquer sintoma que pudesse indicar alergia a gatos.
Mas eu estava sentindo uma forte dor no peito há 03 dias e que veio acompanhada de muita falta de ar. E como não quis me desfazer dos meus meninos, decidi investigar o que estava acontecendo comigo, começando por "esterilizar" a casa, aspirando todos os pelos, eliminando toda a poeira, mas nada adiantava.
Me lembro que na madruga do domingo, de 08 para 09 de agosto, fui ao banheiro e me deparei com Mel na sua liteira, com uma ligeira diarréia. Voltei para dormir, e antes de sair para o trabalho avisei a Dan: Mel está com começo de diarréia.
Durante a manhã, continuei a sentir fortes dores no peito e falta de ar... liguei para casa e Dan me disse: "Dé, a diarista estava fazendo a faxina, e coloquei os meninos no quarto de visitas. Quando eu abri a porta do quarto, Mel estava toda suja de fezes e sujou também todo o chão. Aí a levei para tomar banho".
Na mesma hora eu gelei, porque pensei: "Meus Deus, gato é um dos animais mais limpos que se têm notícia... não se sujam por nada, e ainda mais com as próprias fezes. E, mais, ela só tem 35 dias de vida, ainda não é indicado tomar banho".
Saí do trabalho e fui direto para casa... lá chegando estava minha menina quietinha, acuada, mas logo que me viu ronronou. Gelei de novo: Mel estava com muita falta de ar!
Não titubeei. A levamos ao vet, pediram um monte de exames, começaram a achar que poderia ser "hérnia diafragmática adquirida por eventual tombo", mas ela, que eu saiba, não tinha tombado.
Foi uma tarde longa... o Raio X acusou uma grande mancha, mas ainda era uma incógnita. Voltei para o trabalho orando e desconfiada. Minha falta de ar tinha aumentado, e Mel estava com um quadro de, justamente, falta de ar. Tudo na minha cabeça se encaixava, mas mantive a fé.
Saí novamente do trampo, já agora direto para o vet. Passei exatas 03 horas com Mel deitada no meu pescoço, conversando com ela e colhendo os seus ronrons. Mas o horário de visitas já tinha terminado há muito tempo e tive de me despedir dela. Naquele momento, Dan chegou e se encontrou conosco...
Quando nós estávamos definitivamente indo para casa, falei com Mel: "Meu nenê, fica fortinha que amanhã mamãe volta. Te amo, pequena!". Nessa hora Mel subitamente despertou: comeu pela primeira vez, bebeu água e brincou... brincou muito, de esconde-esconde principalmente!
Me despedi chorando e foi a última vez que vi minha menina. Às 22:30h do dia 09 de agosto de 2010, Mel não resistiu.
Nunca tive coragem de ir ver seu corpo. Eu estava desolada: como uma gatinha que somente passou 10 dias conosco conseguiu mexer tanto comigo?
No outro dia, meu marido se encarregou de sepultá-la, mas antes autorizamos sua necropsia. Mel tinha HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA CONGÊNITA: nasceu com um pulmão atrofiado e com o fígado dentro do tórax. Seu coração estava o dobro do tamanho normal, totalmente sobrecarregado. A vet me disse que ela não tinha chance de vida, que, na verdade, ela viveu mais do que o esperado para a sua condição.
A explicação que eu tenho para a sua sobrevida: muito AMOR.
E é esse amor, e é a imagem de minha Melzinha carinhosa e ´ronronnenta` que eu sempre carrego comigo.
Mel ainda vive!